5 de agosto de 2005

Inflação não é doce, não

Os preços do lazer e da cultura estão cada vez mais salgados. Só mesmo o churro para conter o dragão

Lula Branco Martins
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[10/JUN/2005]

Há quatro anos, em julho de 2001, a revista Programa publicou uma reportagem de capa com título inusitado: Só o churro não aumenta. Não era uma matéria sobre churro. Longe disso. Não se enumeravam ali as melhores barraquinhas da cidade. Tampouco se ensinava a receita para o leitor preparar a guloseima em sua cozinha. Era, basicamente, um estudo comparativo de preços. Uma rápida verificação sobre os preços aplicados, no Rio, no que diz respeito à cultura e ao lazer.

O Plano Real, proclamado em 1994 como a salvação da lavoura, domaria por um bom tempo a inflação e ajudaria Fernando Henrique a se tornar presidente. Naquele 2001, porém, os indícios de que algo ia errado já eram nítidos. Nossa moeda e o dólar não andavam mais de mãos dadas, o consumidor acabava pagando a conta, e o carioca sentia na pele que para ir, por exemplo, ao teatro mais vezes, era obrigado a abrir um pouco mais a carteira.

Então, na época, os repórteres pesquisaram arquivos, saíram às ruas e verificaram dezenas de itens. Quanto era, em 1994, o ingresso do Canecão? E quanto estava em 2001? Qual a diferença entre os preços de um quarto de motel na época do Plano e após sete anos, no novo século?

Repetimos as mesmas perguntas agora, quatro anos depois - o tempo de um mandato presidencial. E o que foi constatado? Que a maioria absoluta dos prazeres, das diversões, das comidinhas e dos passeios desta cidade aumentou de preço entre 2001 e 2005, e que não foi pouco. Uma simples camiseta de clube dobrou. O Big Mac, sanduíche mais famoso do planeta, não pára de encarecer. Livro de Paulo Coelho sobe, o bondinho do Pão de Açúcar sobe, frango de padaria sobe, até o cachorro-quente podrão daquele trailer do Humaitá sobe. Mas...

Mas e o churro? Só o churro não aumenta. É verdade que houve vendedores que de uns anos para cá inventaram dois preços para dois tamanhos (encompridando o de R$ 1 e diminuindo o que ainda custa R$ 0,50). Certo também que em áreas nobres, como os calçadões das praias, o doce é vendido já por R$ 0,70 e às vezes a R$ 1. Mas no Centro, e em bairros como a Tijuca e o Flamengo, vários barraqueiros mantêm, desde 1994, o preço de R$ 0,50 e com o mesmo tamanho básico, uns 18 centímetros. É para dar nó até em cabeça de economista.

*Com reportagem da turma de alunos e jornalistas do curso de Jornalismo Cultural, da Fundação Mudes

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